• 30 de setembro de 2022
  • 8 minutos

O que é cooperativismo de plataforma?

8 minutos
Cooperativismo de plataforma

O cooperativismo de plataforma nasceu da revolução das plataformas digitais que mudaram a maneira das pessoas realizarem negócios pelo mundo.

Isso porque o meio cooperativista conseguiu detectar alguns pontos prejudiciais das plataformas digitais, como a distorção das relações de trabalho, para criar o seu próprio nicho de plataformas, no qual os trabalhadores estão no centro das decisões e das relações.

Assim, na prática, ao invés dos trabalhadores oferecerem a sua mão de obra, serviço ou produto a uma plataforma digital que já existe, ele tem a chance de criar as suas próprias plataformas, reinventando o modelo de cooperativismo tradicional por meio de uma apropriação coletiva.

E é exatamente isso que faz com que o cooperativismo de plataforma seja gerido pelos trabalhadores e não intermediado por grandes corporações, dando a eles a chance de terem controle sobre o seu processo de produção e dando uma distribuição de lucros mais igualitária.

Para entender melhor essa possibilidade que cada vez mais vem se espalhando, preparamos esse artigo completo sobre cooperativismo de plataforma.

Siga a leitura com a gente!

Entenda o funcionamento de uma cooperativa e como fazer parte do movimento cooperativista!

Cooperativismo de plataforma

O que é cooperativismo de plataforma?

Cooperativismo de plataforma é um modelo de serviço digital mais democrático e que se baseia na copropriedade e em uma gestão compartilhada.

Ou seja, o cooperativismo de plataforma consiste em empresas de serviços digitais que se baseiam na Constituição Jurídica e em princípios de uma cooperativa, aliando os melhores pontos do cooperativismo como os melhores pontos das plataformas digitais.

Deste modo, essas cooperativas acabam promovendo transações digitais mais justas e menos descomplicadas entre os seus usuários, enquanto também contam com uma gestão de propriedade compartilhada e mais democrática.

O resultado é mais transparência e uma divisão mais igual do lucro gerado pelo cooperativismo de plataforma.

Além do mais, podemos afirmar que esse modelo de negócio une cooperativismo às plataformas para que as distorções das plataformas tradicionais sejam corrigidas.

Afinal, se avaliarmos as plataformas tradicionais e o modo como elas atuam, ou seja, com efeito de rede, é possível notar que faz mais sentido elas serem construídas como uma cooperativa.

Como funciona o cooperativismo de plataforma

O cooperativismo de plataforma funciona com base na copropriedade e aproveitando o desenvolvimento tecnológico para distribuir a renda de forma mais igualitária, aplicando o ideal do cooperativismo em plataformas digitais de serviço.

Esse conceito também funciona com base nos dez princípios de cooperativismo de plataforma criados por Trebor Scholz, professor da New School, em Nova York (EUA).

Esses conceitos que fazem o cooperativismo de plataforma funcionar são: 

1. Propriedade: que define que o cooperativismo de plataforma é de propriedade coletiva, pois parte do princípio de que a internet deve ser de propriedade pública.

2. Pagamentos decentes e seguridade de renda: que estabelece que as plataformas não devem praticar remunerações abaixo do razoável, pois garante que todos devem ter direito a pagamento e a benefício justos.

3. Transparência e portabilidade de dados: refere-se a transparência nas operações das cooperativas, com foco em defender a transparência na maneira em que os dados são coletados, analisados e vendidos.

4. Apreciação e reconhecimento: estabelece que deve haver um bom ambiente de trabalho e uma boa comunicação na cooperativa, ambos reconhecidos pelos associados.

5. Trabalho codeterminado: diz respeito a fortalecer a plataforma interna e externamente por meio do envolvimento de trabalhadores na empresa desde o começo, para que cada um entenda o que o outro faz e o seu papel ali dentro.

6. Estrutura jurídica protetora: a proteção jurídica serve para defender as cooperativas de ações legais que podem ocorrer eventualmente, afinal de contas, elas ainda são consideradas incomuns e no Brasil, principalmente, é preciso construir ou adaptar a legislação para que elas consigam alcançar um bom potencial.

7. Benefícios e proteção trabalhista portáveis: independentemente do segmento que a plataforma esteja, esse ponto define que o cooperativismo deve funcionar com todos os trabalhadores contando com benefícios trabalhistas e proteção social,  seja ele autônomo, registrado ou temporário.

8. Proteção contra comportamento arbitrário: nas plataformas tradicionais, é comum que trabalhadores sejam desligados sem uma explicação plausível ou um motivo, algo que na cooperativa não pode acontecer, pois fica definido que isto é agir de forma arbitrária.

9. Rejeição ao excesso de vigilância no ambiente de trabalho: considera-se que a vigilância excessiva viola a dignidade dos trabalhadores, portanto, ela não é aceita neste modelo, além de não admitirem sistemas e aplicativos que vigiam e constrange os colaboradores mesmo no Home Office.

10. Direito de se desconectar: estabelece que os trabalhadores também precisam do direito de se desconectar, portanto, o trabalho digital decente permite tempo para o relaxamento e aprendizado que deve ocorrer longe das plataformas digitais.

Cooperativismo de plataforma no Brasil

O cooperativismo de plataforma no Brasil ainda está em seu início, porém, há  diversas oportunidades de crescimento para esse modelo.

Quando houve o breque dos aplicativos em 2020, os entregadores de aplicativos de alimentação fizeram uma paralisação pedindo por melhores condições de trabalho, o que nos deu uma mostra do quanto é necessário uma alternativa de plataforma tradicional aos trabalhadores.

Porém, o cooperativismo de plataforma ainda precisa lidar com o grande desafio da própria falta de informação sobre o cooperativismo em si e o pouco financiamento para esse tipo de iniciativa.

Além do mais, a nossa legislação não possibilita sócios-investidores, como as plataformas internacionais permitem, para que haja diversos grupos e associações.

Sendo assim, o cooperativismo de plataforma no Brasil ainda depende de políticas públicas que o torne mais real, através de capital inicial e incentivos a esse modelo. 

Cooperativismo de plataforma

Tipos de cooperativas de plataforma

Alguns tipos de cooperativas de plataforma são a Resonate, Fairbnb, Cataki, Stocksy e Mensakas.

Resonate

Esse é um serviço de streaming de música que se propõe a devolver o poder aos artistas, principalmente no que diz respeito à gestão democrática, concedendo a eles maior domínio sobre suas obras e os rendimentos obtidos por meio delas.

Criado em 2015, ele permite que os músicos participem das decisões da cooperativa, além de usar o blockchain para garantir mais transparência em relação aos pagamentos e transferências de receita aos artistas, que são proporcionalmente maiores que a dos outros serviços de streaming.

Fairbnb

O Fairbnb é um exemplo de cooperativismo de plataforma que surgiu como uma alternativa às tradicionais plataformas de aluguel de residências.

O  seu objetivo é destinar 50% dos rendimentos para o financiamento de projetos locais das comunidades em que as residências se situam, oferecendo um meio mais igualitário e sustentável para o compartilhamento de residências.

Assim, eles contribuem com o desenvolvimento local e se comprometem com a comunidade em que as residências disponíveis estão situadas.

Cataki

Esse é um modelo de cooperativismo de plataforma brasileiro que foi criado para aproximar geradores e catadores de resíduos, com foco em aumentar a reciclagem e a renda obtida por meio dela.

Dessa forma, os catadores, que são responsáveis por 90% de tudo o que é reciclado em nosso país e que não tem um setor de regulamentação ou reconhecimento social, são conectados a empresas para receberem um valor justo pela coleta que fazem.

Isso contribui tanto para o aumento da dignidade desses trabalhadores, quanto para evitar a poluição por meio de descartes em locais inapropriados.

Stocksy

Trata-se de um banco de imagens e de vídeos que é gerido pelos artistas que recebem o pagamento de 50% a 75% das licenças de suas contribuições.

Além do mais, os artistas podem participar das decisões da cooperativa, tendo um maior senso de comunidade e de pertencimento.

Mensakas

Neste exemplo de cooperativismo de plataforma, alimentação e entrega saudável são as principais metas.

E para isso, o Mensakas atende somente negócios que são comprometidos com o consumo responsável, construindo assim uma rede de economia solidária.

Tudo isso é gerido pelos próprios trabalhadores e a plataforma garante a eles um contrato de trabalho com todos os direitos.

E como os trabalhadores são os seus próprios chefes, eles não ficam dependentes de algoritmos que definem a sua rotina de trabalho.

Cooperativismo de plataforma livro

Cooperativismo 2.0

O cooperativismo de plataforma ainda enfrenta o desafio de unir tecnologia e cooperativismo.

Além disso, o seu desenvolvimento também depende de mais transparência em como são estruturadas e governadas as plataformas, algo que conflita com as práticas de finanças de startups.

Deste modo, quando falamos em cooperativismo 2.0, entramos em um cenário em que temos uma grande gama de Inteligência Artificial e automação de atividades humanas, desafios que para passarmos precisamos do incentivo às cooperativas, com diversos projetos rodando.

E um desses projetos que podemos citar é o da Fundação Google, que financiou o Consórcio de Scholz com 1 milhão de dólares para que eles construam colaborativamente uma forma de repositório de ferramentas que ajudam pessoas interessadas em criar plataformas digitais cooperativas, desenvolvendo assim o cooperativismo de plataforma. 

Entenda o funcionamento de uma cooperativa e como fazer parte do movimento cooperativista!

Conclusão

Hoje a nossa missão era apresentar a você o cooperativismo de plataforma, mostrando que esse é um modelo de serviço digital mais democrático e que se baseia na copropriedade e em uma gestão compartilhada.

Como você viu, este formato consiste em empresas de serviços digitais que se baseiam na Constituição Jurídica e em princípios de uma cooperativa, aliando os melhores pontos do cooperativismo como os melhores pontos das plataformas digitais.

Na prática, o seu funcionamento aproveita o desenvolvimento tecnológico para distribuir a renda de forma mais igualitária, aplicando o ideal do cooperativismo em plataformas digitais de serviço.

Alguns exemplos de cooperativas que já trabalham assim são:

  • Resonate;
  • Fairbnb;
  • Cataki;
  • sSocksy;
  • Mensakas.

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