Taxa Selic e inflação estão entre os indicadores que mais merecem atenção, seja para investimentos do tipo prefixado ou pós-fixado
Se você já possui ou pretende realizar algum investimento, saiba que é preciso estar atento ao cenário econômico. E isso vale tanto para investimentos do tipo prefixado quanto pós-fixado.
Por exemplo, um dos tipos de investimentos mais tradicionais do mercado é a Renda Fixa, que, de forma resumida, significa emprestar o seu dinheiro para uma empresa, banco ou mesmo o Governo. Em troca, quem pega emprestado se compromete a pagar juros sobre o valor captado.
Esse adicional sobre o dinheiro que você empresta pode ser definido previamente ou de acordo com um indexador específico. Quando o investimento é do tipo prefixado, o investidor sabe exatamente quanto vai receber ao fim do período. Mas fica sujeito ao risco de a remuneração contratada ser menor do que a inflação, por exemplo.
Quando o investimento é pós-fixado, a remuneração é definida por indexadores, que são índices oficiais que influenciam direta ou indiretamente a rentabilidade do investimento. Por isso, é necessário entender o comportamento de cada indexador.
Entre os mais comuns estão a Taxa Selic e o IPCA, que é o índice que mede a inflação. Praticamente todos os investimentos de Renda Fixa são definidos a partir do que acontece com esses dois indicadores. E ambos estão diretamente relacionados ao comportamento do cenário econômico.
O que é a Taxa Selic
A Taxa Selic (Sistema Especial de Liquidação e Custódia) é um dos principais instrumentos do Governo para controlar a inflação. E quanto mais alta essa taxa, mais caro ficam os empréstimos e financiamentos, o que desestimula o consumo e reduz a pressão inflacionária.
Os títulos públicos federais, por exemplo, refletem diretamente a Taxa Selic. Isso porque, ao tomar seu dinheiro emprestado, o Governo paga o valor da Selic acrescido de um pequeno percentual, após o período determinado. Por exemplo: Selic + %0,1575.
Você já deve ter ouvido que emprestar dinheiro para o governo – por meio da compra de títulos públicos – é a forma mais segura de investir, o que é verdade. Afinal, nenhuma instituição tem mais solidez do que o Governo. Mas é recomendável acompanhar a evolução e a tendência da Taxa Selic para decidir se vale mais a pena investir em fundos privados ou em títulos públicos.
Em resumo, temos os seguintes cenários: se a Selic cai, os bancos tendem a oferecer uma remuneração menor para seus investimentos; se sobe, como o risco de investir em bancos é maior do que emprestar para o Governo, a remuneração paga pelos bancos aumenta.
E o resultado na prática é o seguinte:
- Selic subindo: juros cobrados em financiamentos, empréstimos e cartão de crédito sobem junto; consumir fica caro, as pessoas preferem poupar e isso estimula a queda da inflação.
- Selic caindo: como os juros cobrados são menores, tomar empréstimo fica mais barato; e a população tende a consumir mais, o que pode gerar inflação.
A Selic como indexador
O investimento mais comum que tem a Selic como indexador é o Tesouro Selic, um título público. Assim, a remuneração do investidor será definida pela taxa Selic vigente no momento da contratação.
De certa maneira, a caderneta de poupança também tem seu rendimento atrelado à Selic. Isso porque a regra da poupança prevê que, caso a Selic esteja abaixo de 8,5% ao ano, a poupança rende o equivalente a 70% da Selic mais a variação da TR (Taxa Referencial).
Caso a Selic ultrapasse os 8,5% ao ano, a poupança passa a render 0,5% ao mês mais a TR. Outro indexador relacionado à Selic é o CDI (Certificado de Depósito Interbancário), que conheceremos a seguir.
O CDI como indexador
Este talvez seja o indexador mais comum para investimentos de Renda Fixa. O CDI acompanha as variações da Selic e rende cerca de 0,2% a menos do que a taxa básica de juros definida pelo Copom (Comitê de Política Monetária), do Banco Central.
O CDI é utilizado como referência por investimentos diversos, como CDB (Certificado de Depósito Bancário), LC (Letra de Câmbio), LCI (Letra de Crédito Imobiliário) e LCA (Letra de Crédito do Agronegócio).
Muitos investimentos oferecem rendimento de 100% do CDI. Isso significa que o investidor que aplicar seu dinheiro terá uma remuneração igual à variação do CDI. Além disso, é muito comum investimentos expressarem seus rendimentos na forma de “x% do CDI”.
Inflação corrói o poder de compra
Outro indicador que merece atenção é a inflação, que se refere ao aumento dos preços de bens e serviços. Isso significa que, por causa da inflação, o dinheiro perde valor ao longo do tempo. Na prática, uma determinada quantidade de dinheiro passa a não ser mais suficiente para comprar a mesma quantidade de itens.
Mesmo que sob controle atualmente, a inflação corrói o poder de compra do dinheiro. Prova disso é que, de acordo com a calculadora de inflação do Banco Central, para comprar um item que, à época da criação do Real, em 1994, custava R$ 1, hoje seriam necessários R$ 6,70. Ou seja, R$ 1 de 1994 teria, hoje, valor equivalente a R$ 0,15, uma desvalorização de 569,5%.
Assim, o ideal é que um investimento, no mínimo, reponha a perda de poder de compra causada pela inflação. Afinal, a intenção de investir está relacionada ao adiamento do desejo por consumir.
Uma pessoa somente guarda dinheiro se acreditar que vale mais a pena adiar a compra de um item em troca de algum benefício futuro. E não há benefício em guardar o dinheiro caso ele se desvalorize, ou seja, perca para a inflação.
IPCA
Um dos principais indicadores para medir a variação da inflação em determinado período é o IPCA, ou Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo.
O IPCA estima o custo de uma cesta de produtos e serviços que reflete os padrões e os hábitos de consumo de famílias brasileiras com renda mensal entre 1 e 40 salários mínimos.
Essa “cesta” é composta por itens de: alimentação, vestuário, habitação, transporte, saúde, despesas pessoais, educação e comunicação.
Assim, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), verifica todos os meses o preço de itens dessas categorias em todo o País e afere a variação para compor o IPCA.
IPCA como indexador
Há diversos investimentos, incluindo títulos do Tesouro Nacional, que têm o IPCA como indexador. Sua nomenclatura costuma ser algo como “Tesouro IPCA+ 2040”, por exemplo.
Isso significa que, ao aplicar dinheiro nesse título, o investidor será remunerado a partir de uma taxa de juros híbrida. Ou seja, composta pelo IPCA e também por uma remuneração adicional.
Na prática, o investidor tem a garantia de que seu dinheiro estará protegido contra a inflação, o que, no pior dos cenários, vai preservar o seu poder de compra.
Então, não importa qual será a inflação no período. Mesmo que ela atinja os níveis estratosféricos do período de hiperinflação, o Banco Central se compromete a repor essa variação, além de pagar um bônus adicional.
Conclusão
De forma resumida, podemos concluir que um investimento de Renda Fixa que não acompanha o IPCA pode fazer o seu dinheiro perder o valor de compra ao longo do tempo, caso a variação da inflação seja superior à rentabilidade do título.
Da mesma maneira, você já consegue saber o que significa para os seus investimentos quando a taxa Selic sobe ou desce, impactando também no CDI e em todos os tipos de investimentos atrelados a ele.
Para quem quer investir com mais sabedoria e estratégia, é preciso acompanhar as principais movimentações da economia. E isso envolve entender as movimentações do Banco Central.
Não se trata de se tornar um especialista em macroeconomia, mas observar quais são as variáveis que impactam os seus investimentos, principalmente tendo como foco a preservação do poder de compra ao longo de períodos mais longos de tempo.
2 comentários em “Como o cenário econômico impacta seus investimentos”